terça-feira, 27 de maio de 2008

textos do Aran - 2007 [Site do Aran]

A TORRE DE MARFIM
Ou: o silêncio do Intelectual


Cansado das demandas do mundo cruel e desumano, um renomado Intelectual mandou construir uma Torre de Marfim e para lá se mudou. E ficou ele lá na torre escrevendo sobre o Simulacro da Sinusite no Socialismo Sensitivo - ou algo igualmente propositivo.
De vez em quando o pau comia lá em baixo e algum desorientado ia pra debaixo da Torre conversar com o Intelectual.

-- Estão matando, roubando e esquartejando, senhor Intelectual, o que você acha de baixar a maioridade penal?

O Intelectual ia até a janela (sim, a Torre tinha uma janela) e gritava:
--Você está sob forte tensão emocional. Volte mais tarde. Agora estou pensando sobre a Ilusão Iluminista na Irlanda Medieval.

Passava algum tempo e, de novo, outro desorientado resolvia procurar o sábio rapaz.
-- Doutor Intelectual, esfolaram, arrastaram e decapitaram mais alguns. E agora? Mudamos todos pra Garanhuns?

O Intelectual bufava um suspiro longo e depois falava:
-- Intelectual não raciocina sob forte tensão emocional. Volte mais tarde. Agora estou pensando sobre a Poesia Concreta e a Reforma Agrária Lenta e Gradual.

Um dia o povo se irritou com a indiferença do Intelectual, foi lá e pôs abaixo a Torre de Marfim. O Intelectual pensou: é meu fim. Mas tão logo a torre ruiu, o Intelectual percebeu, incrédulo, que podia flutuar. Voava sobre as lambanças e as roubanças, as matanças e as festanças, as vinganças e as cobranças. Depois de anos acima da tensão popular, o Intelectual ficara mais leve que o ar!

Hoje o Intelectual trabalha no Gran Circo do Palhaço Pimpão e cobra 10 reais por uma voltinha acima do chão.


O REI, A BESTA E O PROFETA
Mais um mini-romance para sua mini-coleção

E então conduziram o profeta à suntuosa sala do trono. E diante do rei e dos ministros do rei, disse o profeta:
“E isso foi o que eu vi, majestade: surgiu do mar uma besta maior que duzentos bois. E ela tinha face de leão, olhos de lobo, asas e garras de falcão e seu rabo era uma imensa serpente de dentes afiados. E ao sair do oceano, a besta provocou tal estrondo, que as águas revoltas se dividiram em duas imensas muralhas e o barulho foi ouvido em todo o mundo. Os mortos, ao escutarem o estrondo, acordaram e levantaram dos seus túmulos, seguindo a besta em uma procissão macabra. E as nuvens no céu se fecharam em denso negrume. Mas eis que um raio de luz, mais brilhante que mil sóis, rompeu a imensidão de trevas e atingiu os olhos lupinos da besta que...”

Neste momento, o rei ergueu a mão direita e interrompeu a narrativa do profeta. Então chamou o homem para perto do trono e, abaixando-se, falou ao ouvido dele:
“Ok, me traz cem gramas...”


50 COISAS PARA FAZER ANTES DE MORRER
Acrescente as suas!

1. Ir a uma reunião de diretoria usando um sombrero e duas maracas.
2. Andar sempre com uma banana enfiada no ouvido.
3. E quando alguém perguntar que maluquice é essa, responder: “Não tô te ouvindo, tem uma banana enfiada no meu ouvido!”
4. Introduzir na empresa a Casual Sex Friday e obrigar todo mundo a trabalhar pelado.
5. Ser madrinha de bateria (não vale se você for mulher).
6. Usar um monóculo.
7. Usar uma piteira.
8. Usar uma bengala.
9. Usar dois monóculos, duas piteiras e duas bengalas.
10. Fazer uma compra no supermercado que deixe o sujeito do caixa completamente paranóico (cola de sapateiro, álcool, fita isolante, barbante, caixa de pregos, gaiola, focinheira, fósforos e um peixe cru).
11. Entrar na sala do chefe, olhar nos olhos dele e cantarolar uma vinheta do Enio Morricone (“uá uá... uáuáuááá).
12. Pedir um empréstimo ao seu gerente e explicar que você pretende pagar com o corpo.
13. Entrar numa cantina, amarrar a toalha xadrez na cabeça e gritar: “Aí, mulherada vagabunda, quando eu virar aiatolá, vocês vão andar todas de burka!”
14. Simular um orgasmo. No ônibus.
15. Fingir que é estrangeiro e falar num dialeto composto de combinações das palavras “catso”, “putadelamadre”, “puerra”, “modafôca”, “cabrônio”, “fucko”, “panaleiro” e “emtubadoire”.
16. Passar um dia inteiro imitando morto-vivo e murmurando “brain... brain...”
17. Imitar morto-vivo numa reunião de marketing e ganhar uma promoção.
18. Fazer citações de “Mein Kampf” em qualquer conversa sobre política.
19. Fazer citações de “Mein Kampf” em qualquer conversa.
20. Corrigir a pronúncia do seu nome: “Não é João da Silva, é ‘Zun-Han’ e ‘Dazilv’, com o ‘a’ final aspirado”.
21. Deixar crescer um cavanhaque e afirmar que você é o seu duplo malvado de um universo paralelo.
22. Comprar uma ilha com vulcão no meio, construir uma base subterrânea e planejar a dominação mundial.
23. Afirmar que você tem o poder de ler a mente das pessoas e concluir: “Agora, por exemplo, você está pensando que eu sou um babaca”.
24. Comprar uma escrava branca.
25. Vender uma escrava branca.
26. Trocar sua escrava branca por um anão amestrado.
27. Alugar o anão para o David Lynch.
28. Avisar ao David Lynch: “Só tem um troço, falar ao contrário é contra a religião do bostinha...”
29. No formulário de entrada nos EUA, quando perguntam se você pertence ou pertenceu a alguma organização subversiva, tacar lá: Organización Internacionale Revolucionária de Los Tocadores de Maracas.
30. Mentir que você comeu a garota mais gostosa da empresa.
31. Explicar que ela nega tudo porquê está perdidamente apaixonada por você, coitada.
32. Inventar um coquetel. “Morte em Stalingrado” (4/4 de vodca e uma azeitona preta boiando)
33. Plantar uma bananeira. Na reunião da diretoria.
34. Criar um grupo de super-heróis. Vagina Dentata, Ejakulator, Erectus, Orgasmatrom e Anal Queen.
35. Criar uma banda de jazz chamada The Parkinson Desease Jazz Band.
36. Criar uma banda punk chamada Hemorróidas Supuradas.
37. Criar uma banda psicodélica chamada Tatu Bola Azul Turquesa.
38. Criar uma banda de axé chamada Xibiu Xexelento.
39. Imitar Wittgenstein no programa do Faustão.
40. Imitar Emmanuel Kant no programa do Raul Gil.
41. Imitar Benito Di Paula no programa do Jean Paul Sartre.
42. Atear fogo às vestes.
43. Ir a um show do Chico Buarque e ficar gritando: “Caaaaantaaaaa saaaaampaaaaa!”
44. Duelar pela honra de uma mulher (que não seja a sua).
45. Conseguir uma cicatriz de duelo (que não seja a sua).
46. Usar fraque e cartola. Num Palmeiras X Corinthians.
47. Ir audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve. Mas não contar pra ninguém.
48. Usar boina do Che Guevara e falar com voz de Pato Donald.
49. Escrever um livro no qual todos os personagens se chamam Estrôncio, inclusive as mulheres.
50. Simular um ataque epiléptico e depois dizer que é apenas uma nova dança inventada na Bahia.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A abolição inconclusa e o apartheid que nos coube [O Globo Online]

"A secular inércia pública contra o racismo estrutural, a baixa densidade de nosso estado de bem-estar, somados a uma boa dose de democracia racial, consolidaram uma abolição inconclusa e por esta narrativa cristalizaram o apartheid que nos coube: disfarçado, sinuoso, mas terrivelmente eficaz não só para permitir que muitas desigualdades continuassem baseadas nas diferenças, mas também para sustentar uma enorme invisibilidade acerca do problema. Desta forma, estabeleceu-se uma profunda letargia nos governantes impedindo a construção de políticas que nos teriam feito romper com desigualdades incompatíveis com o estado democrático de direito."

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Olhar fotográfico: o que é isto? [Câmara Obscura]

Dizem as boas línguas ferinas do ramo que qualquer macaco treinado sabe fotografar, melhor dizendo, possue o potencial do aprendizado técnico. E o olhar? (com e/ou sem aspas) Pode-se também aprender certos olhares, dentro da mesma técnica que muitos imigrantes aspirantes à literatura e ao jornalismo lá pelos anos 50 usaram na época dos sem-diploma: leram muito pra aprender a escrever (meu pai foi um destes). Antes de falar do olhar do outro, creio que devemos atentar ao próprio olhar ao olhar, quais mecanismos operam e como foram e são educados, pois é isso que ao fim e ao cabo pode ser de fato objetivado numa análise; o que me remete ao post anterior, As fotos da Santa Sofia: como os postais são modelos da boa fotografia, os técnicos/operadores de camera (pra quem não sabe, é assim que a profissão de fotógrafo é considerada pela legislação trabalhista brasileira) “fotografam as fotografias”, e nós olhamos seus olhares. Ou apenas enxergamos uma visão do olhar, ouvimos a escuta da orelha (faz sentido?).
Será que um sujeito com traquejo em fotografia (técnica+olhar) armazena essa informação, aquela trazida pela percepção, em forma de desenho, sinal? E o batedor de foto? certamente como ícone, como signo de primeiridade, de potencial, da vivência sentida, presenciada subcutâneamente, sem síntese ou diferenciação. Se esse naïf pudesse representar esse repertório sem conexão com dados simbólicos, seus interpretantes e associações, levaria vantagem sobre nós, os “letrados”.
Mais pausas, mais pontuações, silêncios e vácuos, mais perdas de tempo, menos palavras e mais letras, quem sabe aprenderemos a fazer ver nosso olhar, e fazer crer no estar lá.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Which door should I choose?

Funny restroom signs - there are so many around the world. Some of them are freaky, some are funny, and some creative. Enjoy!"