quinta-feira, 8 de maio de 2008

Olhar fotográfico: o que é isto? [Câmara Obscura]

Dizem as boas línguas ferinas do ramo que qualquer macaco treinado sabe fotografar, melhor dizendo, possue o potencial do aprendizado técnico. E o olhar? (com e/ou sem aspas) Pode-se também aprender certos olhares, dentro da mesma técnica que muitos imigrantes aspirantes à literatura e ao jornalismo lá pelos anos 50 usaram na época dos sem-diploma: leram muito pra aprender a escrever (meu pai foi um destes). Antes de falar do olhar do outro, creio que devemos atentar ao próprio olhar ao olhar, quais mecanismos operam e como foram e são educados, pois é isso que ao fim e ao cabo pode ser de fato objetivado numa análise; o que me remete ao post anterior, As fotos da Santa Sofia: como os postais são modelos da boa fotografia, os técnicos/operadores de camera (pra quem não sabe, é assim que a profissão de fotógrafo é considerada pela legislação trabalhista brasileira) “fotografam as fotografias”, e nós olhamos seus olhares. Ou apenas enxergamos uma visão do olhar, ouvimos a escuta da orelha (faz sentido?).
Será que um sujeito com traquejo em fotografia (técnica+olhar) armazena essa informação, aquela trazida pela percepção, em forma de desenho, sinal? E o batedor de foto? certamente como ícone, como signo de primeiridade, de potencial, da vivência sentida, presenciada subcutâneamente, sem síntese ou diferenciação. Se esse naïf pudesse representar esse repertório sem conexão com dados simbólicos, seus interpretantes e associações, levaria vantagem sobre nós, os “letrados”.
Mais pausas, mais pontuações, silêncios e vácuos, mais perdas de tempo, menos palavras e mais letras, quem sabe aprenderemos a fazer ver nosso olhar, e fazer crer no estar lá.

Nenhum comentário: