
exposição "PHOTOARTS",
Informações aqui
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Start: | Oct 16, '12 8:00p |
End: | Nov 14, '12 6:00p |
Location: | Rua Fradique Coutinho 1360 - São Paulo/SP |
Start: | Oct 11, '12 7:00p |
End: | Oct 28, '12 6:00p |
Location: | Parque do Ibirapuera - São Paulo/SP |
Start: | Oct 17, '12 6:00p |
End: | Nov 17, '12 4:00p |
Location: | Rua da Consolação 3058 - São Paulo/SP |
O discurso fotográfico de Ulisses Matandos, arejado e sereno, é expresso com clareza e simplicidade, pois transforma a paisagem de dado naturalístico em dado interior, ditado pela própria sensibilidade. Com efeito, tal interpretação poética da realidade cria uma atmosfera de raro lirismo.
Com rigorosa coerência, a pesquisa desse artista fotógrafo alcançou uma nova visão do que nada mais é a confirmação dos precedentes empenhos de absoluta racionalidade e de lógica do espaço e da cor.
Na presente exposição dedicada às Paisagens Andinas, suas criações fotográficas são cada vez mais essência e simplicidade, mais imediatamente humanas, sinal evidente da confiança nos próprios meios. Os lugares e as imagens dessas paisagens, filtradas interiormente, são capazes de conservar o sentimento que as acompanhou desde o seu nascer.
por Emanuel von Lauenstein Massarani
Escritor
Start: | Oct 2, '12 7:00p |
End: | Nov 18, '12 8:30p |
Location: | Av. Europa 158 - São Paulo/SP |
A Louca Debaixo do Branco é um jogo entre espelhos. Trata-se de um autorretrato e de um trauma que se revela a partir de um personagem principal – a noiva – com seus signos, suas representações: o dia do casamento, determinadas histórias de amor, dor, vida e morte que surgiram do romance homônimo escrito por Fernanda Young, artista que também é roteirista e apresentadora de TV. Inteiramente concebida como um livro-instalação, seu tema central é interpretado a partir de ensaios fotográficos, iconografia selecionada na coleção do crítico e pesquisador Rubens Fernandes Junior, fotopintura, esculturas, textos, poemas, diários, vídeos e interação via internet entre o público e a autora. Portanto, trata-se de um livro aberto que poderá ser percorrido em diversos materiais. Inclusive esse material de que somos feitos todos nós: que nos faz acreditar em alguém num piscar de olhos e desacreditar para sempre nesse mesmo indivíduo alguns anos depois, debaixo do mesmo teto, entre a mesa da sala e o espelho do banheiro, entre a luz tênue do abajur e o sono inocente das crianças, entre a porta de entrada e a solidão escorrendo pelas paredes. Então, de que material vulnerável somos feitos todos nós? Assim sendo, temos um livro-instalação concebido por palavras que poderão se modificar a cada instante. Como uma fotografia para a qual olhamos mais de duas vezes.
A partir da lembrança de sua participação como dama de honra no casamento de uma cabeleireira, quando jogou todo o estoque de pétalas de rosas antes que a noiva alcançasse o altar, a autora Fernanda Young trata essa ‘lesão por extensão’ com diversos olhares, investindo no amor como matéria-prima para a existência, desacreditando nesse mesmo amor que leva ao desamor e encarando a vida – que além de ser crua, poderá sangrar. E mesmo sangrando, ela continua acreditando no amor, nas artimanhas do discurso amoroso. É capaz até de fazer promessas, acender velas. Por isso ela mesma é o espelho de todo o processo expográfico em A Louca Debaixo do Branco. Vestida de noiva, seus retratos são autorretratos diante da sua dor, do seu prazer, do seu amor, do desamor, do desejo e do amor dos outros. Dessa ‘ideologia’ que faz toda noiva pensar que é única, para sempre: um trauma religioso, mais que uma tatuagem. Muito menos que uma verdade. Muito mais que uma mentira. Diante de si mesma, a autora é poeta e material de consumo. Lida com o seu passado e com as possibilidades e impossibilidades que apenas o tempo, que poderá ser afável e cruel, apenas ele, o tempo, será capaz de decidir. Por isso temos uma iconografia da representação diante da realidade de uma iconografia da vida real, registrada entre 1930 e 1970 (a coleção de Rubens Fernandes Junior). Diante das palavras impressas e de uma imagem idealizada, A Louca Debaixo do Branco poderá ser encontrada nas páginas de um romance. Cabe a ela, a louca – louca, eu? Não, loucas são as outras –, refletida no espelho, permanecer onde está ou enfrentar o despenhadeiro para chegar à página seguinte.
* Hilda Hilst. da morte. odes mínimas. São Paulo: Nankin/ Noroît, 1998. 135p.
por Diógenes Moura
Escritor e Curador de fotografia
Start: | Oct 17, '12 10:00a |
End: | Nov 25, '12 5:00p |
Location: | Av. Paulista 1578 - São Paulo/SP |
Considerado mestre de um cinema poético já a partir da metade de sua trajetória, Andrei Tarkóvski não utilizava essa nomenclatura, porém admitia o conceito para seus filmes e não se furtava a expor, também em palavras, o que estimava ser a poesia no cinema. No livro Esculpir o Tempo, em seus Diários e em entrevistas, legou-nos quase uma teoria sobre o tema. Em 1984, por exemplo, explicou aos críticos russos V. Ishimov e R. Shejko: “Em certo sentido, em suas formas mais elevadas e refinadas, toda arte é poética. Leonardo [da Vinci] é um poeta nas artes figurativas, um gênio poético. Por isso, seria ridículo chamar Leonardo de artista, ridículo chamar Bach de compositor, ridículo chamar Shakespeare de dramaturgo e ridículo chamar Tolstói de escritor. Eles são poetas. Há uma diferença. E eu tenho isso em mente quando falo sobre o fato de o cinema ter, também, sua própria essência poética. Assim, considero o cinema como parte da vida, parte de um universo que jamais conheceríamos ou compreenderíamos por meio de outras formas e gêneros de arte”.
Poucas vezes se afirmou com tanta clareza, para não mencionar inspiração, o estatuto de arte para o gênero cinematográfico. O que para muitos ainda representa uma dúvida – “o cinema é ou não uma arte legítima?”, talvez porque a indústria exerça força cada vez maior em contrário –, era, para Tarkóvski, um fundamento pleno. A partir de sua biografia, ficamos sabendo que ele poderia ter sido um músico, pintor ou teatrólogo de grande estatura, ou poeta do naipe de seu pai, Arseni Tarkóvski, mas elegeu o cinema. À parte isso, ao definir de tal maneira a expressão que buscava, Andrei Tarkóvski também se detinha sobre a natureza dual da arte, a aparente oposição entre universalidade poética e particularidades de manifestação no interior de cada uma das diversas linguagens.
A fotografia mereceria, com certeza, lugar tão destacado em seu entendimento quanto a literatura, a música ou o cinema. E embora pouco tenha falado sobre eles, os polaroides (instantâneos) que realizou em grande número na Rússia e na Itália, entre os anos de 1979 e 1984, perfazem conjunto que nos revela os sentidos especiais que o cineasta identificava nessa arte, duas décadas antes do boom que ora presenciamos de artistas das mais diversas procedências a recorrerem a esse suporte.
Basta observar – de preferência com o privilégio de uma visita aos originais na exposição proporcionada pelo Museu de Arte de São Paulo e pela 36ª Mostra de Cinema de São Paulo a partir de 16 de outubro e até 15 de novembro – a singularidade de cada item dessa coleção, em termos de cor, composição e enquadramento, resultando dessa combinação uma particular narrativa poética dentro de um único “quadro”. Os cuidados em torno de cada fotografia são evidentes e equivalem às atenções precisas que o cineasta dispensava à forma de seus filmes, estes, porém, de natureza obviamente diversa e a depender, sempre, de um número considerável de colaboradores. Já na arte fotográfica, com controle direto e imediato do resultado e a valer-se, tão somente, de seus sempre renovados e profundos recursos de observação e concentração, Tarkóvski plasmou uma espécie de síntese de sua poética. Eis a maneira como deveriam ser consideradas essas imagens, embora inicialmente possam nos parecer tão frágeis, efêmeras ou pequenas. Prescindem de legendas, referências literárias ou imagens complementares, de música ou de outros recursos exteriores para comunicar os estados de espírito de seu criador: estes se apresentam no mesmo momento em que as fotos se oferecem à contemplação, como intensos flashes de luz, poesia e espiritualidade.
Paradoxalmente, a mostra desses polaroides no Brasil – que se faz acompanhar do livro Instantâneos, coedição Cosac Naify / Mostra – configura-se como uma das últimas oportunidades para a sua apreciação, já que a emulsão das chapas desaparecerá inapelavelmente dentro de pouco tempo, como é característico dessa técnica.
Recordem-se, por outro lado, as circunstâncias em que o cineasta passou a carregar uma máquina fotográfica a tiracolo. Ao contrário do que se poderia imaginar, tal quadro não era habitual, apesar de Tarkóvski ter convivido com câmeras desde sua infância, sobretudo nos sets de filmagens. Seu semblante foi registrado milhares de vezes em negativos, por familiares e colegas. Não obstante, até 1979 não havia sinal de que pudesse, um dia, adotar a fotografia como meio de expressão. Porém, algo muito grave e significativo ocorreu nesse ano, quando finalmente seu filme Stalker começou a ser mostrado na Rússia, com cortes. As autoridades soviéticas e o Goskino, órgão regulador do cinema, não engoliam a visão de mundo e as referências a diversos mecanismos de opressão estampados nesse filme, e, assim, o diretor não mais conseguia aprovação para os roteiros que submetia, sobre os mais variados temas.
Ao mesmo tempo em que sua expressão artística era estancada pelo estado soviético, Tarkóvski angustiava-se a ponto de ficar doente com fatos da vida cultural e política de seu país. Larissa Tarkóvskaia, mulher do diretor, chegou a identificar uma das principais razões para que o marido iniciasse suas viagens ao exterior. Andrei não teria se conformado com o desmentido do anúncio, longamente ansiado, da soltura do diretor Serguei Paradjanov (1924-1990), preso sob acusações como “suborno e homossexualismo”.
Assim, em 1979, o diretor aceitou o convite do roteirista e poeta Tonino Guerra (1920-2012), colaborador de Antonioni e Fellini, para ir à Itália e fazer um filme nesse país: Nostalgia, terminado quatro anos depois. Uma câmera polaroide é adquirida para que Tarkóvski possa registrar e estudar locações no norte do país. Ao retornar à pátria também recorreria à máquina, tanto em Moscou como na casa de campo que ele e a mulher construíram em Miásnoie, lugar de proteção e criação, identificada à datcha na qual vivera parte de sua infância.
Tanto a série russa como a italiana de instantâneos, ora apresentadas em São Paulo pelo Instituto Tarkóvski de Florença e pela Mostra de Cinema, revestem-se do apuro característico de Tarkóvski em qualquer atividade e, à parte sua autonomia em termos de linguagem artística, podem configurar-se também como imagens-síntese do universo do cineasta.
por Alvaro Machado
Curador