segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Andrei Tarkóvski no MASP

Start:     Oct 17, '12 10:00a
End:     Nov 25, '12 5:00p
Location:     Av. Paulista 1578 - São Paulo/SP
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A “luz Instantânea” na poética de Andrei Tarkóvski
Masp exibe 80 polaroides originais de Tarkóvski entre 16 de out. e 15 de nov., enquanto a 36a. Mostra de Cinema de SP comemora os 80 anos do diretor com retrospectiva completa

            Considerado mestre de um cinema poético já a partir da metade de sua trajetória, Andrei Tarkóvski não utilizava essa nomenclatura, porém admitia o conceito para seus filmes e não se furtava a expor, também em palavras, o que estimava ser a poesia no cinema. No livro Esculpir o Tempo, em seus Diários e em entrevistas, legou-nos quase uma teoria sobre o tema. Em 1984, por exemplo, explicou aos críticos russos V. Ishimov e R. Shejko: “Em certo sentido, em suas formas mais elevadas e refinadas, toda arte é poética. Leonardo [da Vinci] é um poeta nas artes figurativas, um gênio poético. Por isso, seria ridículo chamar Leonardo de artista, ridículo chamar Bach de compositor, ridículo chamar Shakespeare de dramaturgo e ridículo chamar Tolstói de escritor. Eles são poetas. Há uma diferença. E eu tenho isso em mente quando falo sobre o fato de o cinema ter, também, sua própria essência poética. Assim, considero o cinema como parte da vida, parte de um universo que jamais conheceríamos ou compreenderíamos por meio de outras formas e gêneros de arte”.
            Poucas vezes se afirmou com tanta clareza, para não mencionar inspiração, o estatuto de arte para o gênero cinematográfico. O que para muitos ainda representa uma dúvida – “o cinema é ou não uma arte legítima?”, talvez porque a indústria exerça força cada vez maior em contrário –, era, para Tarkóvski, um fundamento pleno. A partir de sua biografia, ficamos sabendo que ele poderia ter sido um músico, pintor ou teatrólogo de grande estatura, ou poeta do naipe de seu pai, Arseni Tarkóvski, mas elegeu o cinema. À parte isso, ao definir de tal maneira a expressão que buscava, Andrei Tarkóvski também se detinha sobre a natureza dual da arte, a aparente oposição entre universalidade poética e particularidades de manifestação no interior de cada uma das diversas linguagens.
            A fotografia mereceria, com certeza, lugar tão destacado em seu entendimento quanto a literatura, a música ou o cinema. E embora pouco tenha falado sobre eles, os polaroides (instantâneos) que realizou em grande número na Rússia e na Itália, entre os anos de 1979 e 1984, perfazem conjunto que nos revela os sentidos especiais que o cineasta identificava nessa arte, duas décadas antes do boom que ora presenciamos de artistas das mais diversas procedências a recorrerem a esse suporte.
            Basta observar – de preferência com o privilégio de uma visita aos originais na exposição proporcionada pelo Museu de Arte de São Paulo e pela 36ª Mostra de Cinema de São Paulo a partir de 16 de outubro e até 15 de novembro – a singularidade de cada item dessa coleção, em termos de cor, composição e enquadramento, resultando dessa combinação uma particular narrativa poética dentro de um único “quadro”. Os cuidados em torno de cada fotografia são evidentes e equivalem às atenções precisas que o cineasta dispensava à forma de seus filmes, estes, porém, de natureza obviamente diversa e a depender, sempre, de um número considerável de colaboradores. Já na arte fotográfica, com controle direto e imediato do resultado e a valer-se, tão somente, de seus sempre renovados e profundos recursos de observação e concentração, Tarkóvski plasmou uma espécie de síntese de sua poética. Eis a maneira como deveriam ser consideradas essas imagens, embora inicialmente possam nos parecer tão frágeis, efêmeras ou pequenas. Prescindem de legendas, referências literárias ou imagens complementares, de música ou de outros recursos exteriores para comunicar os estados de espírito de seu criador: estes se apresentam no mesmo momento em que as fotos se oferecem à contemplação, como intensos flashes de luz, poesia e espiritualidade.
            Paradoxalmente, a mostra desses polaroides no Brasil – que se faz acompanhar do livro Instantâneos, coedição Cosac Naify / Mostra – configura-se como uma das últimas oportunidades para a sua apreciação, já que a emulsão das chapas desaparecerá inapelavelmente dentro de pouco tempo, como é característico dessa técnica.
Recordem-se, por outro lado, as circunstâncias em que o cineasta passou a carregar uma máquina fotográfica a tiracolo. Ao contrário do que se poderia imaginar, tal quadro não era habitual, apesar de Tarkóvski ter convivido com câmeras desde sua infância, sobretudo nos sets de filmagens. Seu semblante foi registrado milhares de vezes em negativos, por familiares e colegas. Não obstante, até 1979 não havia sinal de que pudesse, um dia, adotar a fotografia como meio de expressão. Porém, algo muito grave e significativo ocorreu nesse ano, quando finalmente seu filme Stalker começou a ser mostrado na Rússia, com cortes. As autoridades soviéticas e o Goskino, órgão regulador do cinema, não engoliam a visão de mundo e as referências a diversos mecanismos de opressão estampados nesse filme, e, assim, o diretor não mais conseguia aprovação para os roteiros que submetia, sobre os mais variados temas.
            Ao mesmo tempo em que sua expressão artística era estancada pelo estado soviético, Tarkóvski angustiava-se a ponto de ficar doente com fatos da vida cultural e política de seu país. Larissa Tarkóvskaia, mulher do diretor, chegou a identificar uma das principais razões para que o marido iniciasse suas viagens ao exterior. Andrei não teria se conformado com o desmentido do anúncio, longamente ansiado, da soltura do diretor Serguei Paradjanov (1924-1990), preso sob acusações como “suborno e homossexualismo”.
            Assim, em 1979, o diretor aceitou o convite do roteirista e poeta Tonino Guerra (1920-2012), colaborador de Antonioni e Fellini, para ir à Itália e fazer um filme nesse país: Nostalgia, terminado quatro anos depois. Uma câmera polaroide é adquirida para que Tarkóvski possa registrar e estudar locações no norte do país. Ao retornar à pátria também recorreria à máquina, tanto em Moscou como na casa de campo que ele e a mulher construíram em Miásnoie, lugar de proteção e criação, identificada à datcha na qual vivera parte de sua infância.
            Tanto a série russa como a italiana de instantâneos, ora apresentadas em São Paulo pelo Instituto Tarkóvski de Florença e pela Mostra de Cinema, revestem-se do apuro característico de Tarkóvski em qualquer atividade e, à parte sua autonomia em termos de linguagem artística, podem configurar-se também como imagens-síntese do universo do cineasta.


por Alvaro Machado
Curador


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Luz instantânea: polaroides de Andrei Tarkóvski

˙ · Reconhecido como um dos mais importantes diretores russos da história do cinema, Andrei Tarkóvski – falecido em 1986 – é o homenageado da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece de 19 de outubro a 1º de novembro.
Paralelamente ao festival, o Masp exibirá, a partir do dia 17/10, uma exposição que mostra a vertente fotográfica do diretor. “Luz instantânea: polaroides de Andrei Tarkóvski” traz uma coleção única de 80 imagens produzidas pelo russo no formato que marcou gerações pela facilidade de impressão de fotos logo após o registro. A exibição revela a vida pessoal e profissional de Tarkóvski entre 1979 e 1984, e são documentos naturalmente ligados ao trabalho do diretor no cinema.
Outros materiais do diretor também estarão em cartaz no hall do Cinesesc até 25 de novembro. “O Espelho de Memórias” exibe 30 fotos do arquivo pessoal do cineasta e registros de filmagem, além de poemas escritos pelo pai de Andrei, o poeta Arseni Tarkóvski.
Para celebrar a homenagem desta edição da Mostra Internacional de Cinema e a exposição das polaroides, a editora Cosac Naify também lança o livro “Tarkóvski – Instantâneos”, que tem 60 imagens nesse formato.

Luz instantânea: polaroides de Andrei Tarkóvski
Data: a partir de 17 de outubro a 25 de novembro de 2012.
Horários de funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h (bilheteria aberta até 17h30), quinta-feira, das 10h às 20h (bilheteria até 19h30).
Museu de Arte de São Paulo - MASP.
Av. Paulista, 1578 – Bela Vista (próximo à estação do metrô Trianon-Masp).
Preços: R$ 15 e R$ 7 (meia-entrada). Gratuito às terças-feiras.
Telefone: (11) 3251-5644

O espelho de memórias – Exposição internacional de Tarkóvski
Data: de 19 de outubro a 25 de novembro de 2012.
Local: Cinesesc
Horário: diariamente das 14h às 21h30
End.: Rua Augusta, 2.075 – próximo ao metrô Consolação
Entrada gratuita


Fonte: Pâmela Peralta (36ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)


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IMAGENS da EXPOSIÇÃO "luz Instantânea"
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