quinta-feira, 8 de novembro de 2012

'Um olhar sobre o Brasil' no Tomie

Start:     Nov 12, '12 8:00p
End:     Jan 27, '13 8:45p
Location:     Rua Coropés 88 - São Paulo/SP
::
A fotografia na construção da imagem da nação

            Com a descoberta da fotografia, as imagens visuais técnicas ingressaram na vida cotidiana do homem e da sociedade; um ingresso que se faria eterno. Um dispositivo de ver o entorno e, também, de ver o que não pode ser visto fisicamente: cenários, personagens e fatos desconhecidos de espaços geográficos remotos e tempos pretéritos.
            Embora seu valor documental seja insubstituível como meio de informação, é importante que nos perguntemos sempre: qual é a verdade que nos mostra a imagem fotográfica? A verdade do registro da aparência, da indiscutível semelhança com o objeto-modelo materializada por um sistema de representação visual e conduzida, monitorada, moldada segundo um processo de criação/construção. De realidades. Realidades elaboradas, território de fronteiras fluídas, indefinidas, palco de realidades e ficções. Ficções documentais a partir de verdades individuais, regionais, ideológicas, étnicas, religiosas. Assim se forma o testemunho fotográfico: um documento expressivo, permeável aos devaneios da imaginação e interesses os mais diversos.
            A partir de tal reflexão pensamos a fotografia. E, a possibilidade de se imaginar uma história do país através e, a partir, das imagens da câmera. Este é o objeto desta exposição, porém, como levar à frente um projeto dessa natureza? Como abranger as múltiplas facetas de um país das dimensões do Brasil, rico em sua diversidade étnica, geográfica, pleno de contrastes sociais em todas as suas regiões? Não foram poucos os desafios desta empreitada.
            Procurou-se reunir, nesta exposição, e no livro que a acompanha, - proposta possivelmente inédita neste país, seja pela sua forma seja pela abordagem - um conjunto que documenta aspectos expressivos de fatos sociais, políticos, culturais, religiosos, científicos, artísticos, entre tantos outros, fios que tecem a trama histórica de uma nação. A reflexão acerca das conexões mais profundas desses fatos, sugeridos pelas imagens, em sua forma ambigua e sedutora, foi o objetivo que procuramos alcançar. As fontes fotográficas não se bastam em si mesmas; é preciso dar “voz” às mensagens codificadas nas imagens fotográficas, ultrapassar sua tênue superfície iconográfica e buscar por significados não explícitos, ao nível das mentalidades, das ideologias. Os significados dos documentos são “maleáveis”, de acordo com as visões de mundo de seus autores e dos repertórios dos leitores que os leem e os compreendem à sua maneira. Referimo-nos, aqui, aos processos de criações/construções de realidades, que elas propiciam, seja na sua produção, seja na sua interpretação, seja, enfim, nos usos e aplicações que foram objeto. Ao refletirmos sobre as representações fotográficas devemos ter em mente que tratamos de verdades relativas, verdades iconográficas.
            As fontes fotográficas podem ser objeto de estudos sob diferentes enfoques e disciplinas. Daí a razão de incluirmos nas vitrines, imagens e seus respectivos suportes, em conformidade com a técnica empregada nos diferentes períodos, além de câmeras e equipamentos fotográficos do passado, utilizados para a produção das imagens; uma experiência nova para todos os visitants, especialmente aqueles que se iniciaram na fotografia, já sob o império das imagens eletrônicas.
            Nossa abordagem iconográfica pôde ser mais livre no período do Segundo Reinado, prevalecendo o enfoque social na escolha e análise dos temas. O século XX, em virtude de sua multiplicidade temática, exigiu outro critério de desenvolvimento narrativo e de análise. A partir da proclamação da República e, ao longo de todo o século XX, buscou-se trilhar pelas periodizações bem demarcadas por fatos políticos contundentes da história do Brasil. Para cada um desses períodos optamos por um desenvolvimento segundo os seguintes eixos temáticos: política/sociedade/cultura e artes/paisagem.
            O desafio desta empreitada residiu em reunir um corpus documental que pudesse conduzir o espectador através dos caminhos de luzes e sombras que permeiam a história do Brasil. Por essas vias tentamos equacionar nossa abordagem. Um conjunto de fotografias e micro-histórias que se articulam visando à construção da imagem da nação. Trata-se de um olhar sobre o Brasil, como, obviamente, existem muitos outros olhares, outras imagens e outras leituras.


Por Boris Kossoy
Curador


.
Instituto Tomie Ohtake e Fundación Mapfre apresentam
Um Olhar sobre o Brasil. A Fotografia na construção da Imagem da Nação
Abertura: 12 de novembro de 2012 - até 27 de janeiro de 2013

˙ · Com mais de 400 imagens vindas de diferentes acervos públicos e coleções privadas, a Fundación Mapfre, em parceria com Instituto Tomie Ohtake, realiza a exposição “Um olhar sobre o Brasil. A Fotografia na construção da Imagem da Nação”. O projeto inédito, de pensar 170 anos de história do país (1833-2003) a partir do registro fotográfico, tem curadoria do especialista em história da fotografia Boris Kossoy e curadoria adjunta da antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz.
Com cenografia assinada por Daniela Thomas e Felipe Tassara, a mostra percorre caminhos de luz e sombra, costurando história e iconografia. Tomando como ponto de partida o momento próprio de invenção da técnica fotográfica, a exposição revisita o olhar “científico” que guiava as expedições estrangeiras, o gosto de D. Pedro II pelo novo suporte e os registros de revoltas populares como a de Canudos, até chegar à grande multiplicação de temas, ângulos, acontecimentos e reviravoltas que compuseram o longo século 20.
Graças à ampla pesquisa empreendida pela equipe curatorial, cada uma das fotografias é apresentada acompanhada por um pequeno texto, sua micro-história, com informações que vão muito além da tradicional legenda (título, data, autor). Ao refletir sobre as fotos escolhidas, o curador destaca o esforço em ”valorizar o simbólico, tentar evitar a redundância, destacar o anônimo e o cotidiano naquilo que têm de aparente e oculto, rever criticamente as imagens conhecidas e ideologicamente comprometidas com as histórias oficiais”.
A mostra acompanha o lançamento do livro “Um olhar sobre o Brasil. A Fotografia na construção da Imagem da Nação: 1833-2003” (coordenação – Boris Kossoy, consultoria histórica – Lilia Moritz Schwarcz), volume que integra a coleção História do Brasil Nação: 1808-2010 (Fundación Mapfre/ Grupo Santillana/ Editora Objetiva; coordenação Lilia Moritz Schwarcz) e que faz parte de um projeto maior denominado América Latina na História Contemporânea.
A fim de organizar o grande número de imagens, a curadoria procurou pensar o material a partir de quatro grandes eixos temáticos: política, sociedade, cultura/artes e cenários. Ao mesmo tempo, os 170 anos foram divididos em sete períodos, demarcados de acordo com os principais fatos da história nacional.
1833–1889 | Luzes sobre o Império
1889–1930 | Urbanidade, conflitos, modernidade
1930–1937 | Ideologias, revoluções, nacionalismos
1937–1945 | Autoritarismo, repressão, resistência
1945–1964 | Industrialização, desenvolvimento, anos dourados
1964–1985 | Tempos sombrios
1985–2003 | O reacender das luzes
Escolhida como ponto de partida da exposição, a data de 1833 refere-se às experiências precursoras de Antoine Hercule Romuald Florence (1804–1879), levadas a efeito na vila de São Carlos (Campinas) e que o conduziram a uma descoberta independente da fotografia, pioneira nas Américas e contemporâneas às que se realizavam, na mesma época, na Europa.
Pensando ainda no século XIX, Lilia Schwarcz ressalta os fotógrafos itinerantes que varreram o país de ponta a ponta, motivados, a princípio, pelo desejo de conhecer esse Império dado a costumes, climas e políticas em tudo tão distintos. “Enquanto imenso ‘gigante tropical’ habitado por muitas raças e grupos de origens variadas, o Brasil representava um verdadeiro porto de chegada (e de partida): um posto avançado para a observação naturalista e científica de um concentrado natural e, ademais, racial”, escreve a historiadora.
Hobby do imperador D. Pedro II, a fotografia tornou-se ferramenta para registrar cada vez mais um número cada vez maior as famílias da elite, em cenas devidamente posadas. Junto com o registro da paisagem urbana, rural e natural, os retratos de estúdio introduziram a prática fotográfica no cotidiano das sociedades em todo o mundo.
Ao longo de todo o século XX e com cada vez mais intensidade, a fotografia tomou as páginas das revistas dos jornais, diversificou seus temas e, saindo às ruas, acompanhou os momentos mais marcantes, alguns gloriosos, outros bastante sombrios. De seu papel no fortalecimento do Estado Novo, à participação da FEB na Segunda Guerra Mundial), da construção de Brasília, amplamente documentada, à foto de multidões clamando pelas Diretas, a fotografia teve papel crucial para imagem dos governantes que mobilizaram as massas como as dos líderes populares Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva.
Não há como lembrar das Diretas sem recordar do instantâneo que tomou os políticos de vários partidos, todos de braços levantados aguardando que o fotógrafo tornasse imortal e memorável (no sentido de ficar retido na memória) um ato resumido a poucos instantes e que seria, por si só, apagado pela lógica da circunstância. Por isso tantas vezes é difícil separar o que de fato ocorreu e o que o ato fotográfico imortalizou”, sugerem os curadores.
Técnica documental, mas também plataforma da criação e profusão de sentido, a fotografia fez parte da construção da identidade nacional desde a época de sua invenção, retratando, mas também contribuindo para definir costumes, numa intrincada rede de relações. “Ela é, a um só tempo, produto e produção, reflexo e estabilização de hábitos; reação e vanguarda; elemento cultural, mas também argumento político, social e econômico. Nada lhe escapa assim como tudo lhe escapa, pois a fotografia apenas finge que preenche a realidade e assim capta sua totalidade”.

Boris Kossoy professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP, foi diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do IDART - Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo criou dentro da mesma universidade NEIIM - Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Imagem e Memória. É membro do conselho consultivo da Coleção Pirelli-MASP de Fotografia, entre outras instituições culturais. Trabalhos de sua criação, como fotógrafo, encontram-se representados nas coleções permanentes do Museum of Modern Art (N.Y), George Eastman House (Rochester, N.Y), Smithsonian Institution (Washington, D.C.), Bibliothèque Nationale de Paris, Museu de Arte de São Paulo, para citar alguns. É autor dos livros: Viagem pelo Fantástico, Hercule Florence, a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil; Origens e Expansão da Fotografia no Brasil - Século XIX; Fotografia e História; Realidades e Ficções na Trama Fotográfica; Os Tempos da Fotografia: O Efêmero e o Perpétuo, entre outros.
Lilia Moritz Schwarcz é professora titular no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP). Foi Visiting Professor em Oxford, Leiden, Brown, Columbia e é atualmente Global Professor pela Universidade de Princeton. É autora, entre outros, de Retrato em branco e negro, O espetáculo das raças, As barbas do Imperador – D. Pedro II, um monarca nos trópicos, Símbolos e rituais da monarquia brasileira e Registros escravos. Coordenou, entre outros, o volume 4 da História da Vida Privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea, com André Botelho Um Enigma sobre o Brasil e dirige atualmente a História do Brasil Nação. Mapfre/ Objetiva em 6volumas (Prêmio APCA, 2011).

Exposição: Um olhar sobre o Brasil. A Fotografia na construção da Imagem da Nação
Abertura para convidados: 12 de novembro de 2012, às 20h
Até 27 de janeiro de 2013
De terça a domingo, das 11h às 20h – entrada franca
Realização: Fundación Mapfre em colaboração com o Instituto Tomie Ohtake
Patrocínio: Mapfre Investimentos
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201 (Entrada pela Rua Coropés, 88) - Pinheiros SP
Fone: (11) 2245-1900


Fontes: Boris Kossoy, e Martim Pelisson (Pool de Comunicação)


‾‾‾‾‾ ΅ * ΅ ‾‾‾‾‾
IMAGENS da EXPOSIÇÃO "UM OLHAR SOBRE O BRASIL"
________________________________________________________________________________
º] | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | >*< | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | [º
¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯¯