sexta-feira, 26 de outubro de 2012

'Vi Ver', de Nair Benedicto

Start:     Oct 27, '12 11:00a
End:     Oct 27, '12 3:00p
Location:     Rua Roberto Simonsen 136-B - São Paulo/SP
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Nair Benedicto

            Nair Benedicto é um nome inscrito na história da fotografia brasileira como uma autora engajada na grande aventura humana. Sua fotografia sempre foi politizada e independente, lírica e amorosa, repleta de imagens fortes. Mais que fortes: avassaladoras. Com este livro, teremos a oportunidade de conhecer melhor sua trajetória onde o político e o humano se entrelaçam de maneira indissolúvel. A edição das imagens vai espelhar os dilemas centrais da política brasileira e da cultura contemporânea.
            A fotografia ocupa um papel fundamental na construção da memória. É um documento que estabelece a possibilidade ao leitor de percorrer caminhos diversos e labirínticos entre o passado e o presente, a fim de idealizar um compromisso com o futuro. Para isso, é fundamental entender que a fotografia nada evoca sem o envolvimento de um olhar mobilizado. Fica claro que Nair Benedicto sempre teve consciência que seu trabalho realizado com autenticidade e técnica, foi permanentemente regulado pela emoção e pela intuição. Isso significa que suas fotografias, aqui colocadas num fluxo que gera um ritmo, provocam a memória e permitem a construção de uma participação reflexiva e cognitiva.
            Impossível não destacar que sua temática é política e social. Aliás, é fundamental conhecer um pouco da sua trajetória, mesmo que panoramicamente, para entender porque sua fotografia se diferencia de tantas outras produzidas do mesmo período. No final dos anos sessenta era estudante de rádio e televisão na Universidade de São Paulo. Ativa no movimento estudantil foi presa pela ditadura militar. Parece paradoxal, mas sua prisão ao mesmo tempo inviabilizou seu projeto de trabalhar em emissoras de televisão e possibilitou assumir a fotografia como linguagem e expressão. Em 1975, após fotografar o cotidiano dos nordestinos em São Paulo, suas fotografias foram adquiridas pelo Museu de Arte Moderna de Nova York.
            Trabalhou a vida inteira como free lancer afirmando a cada trabalho sua independência. Essa coragem é que lhe deu liberdade para olhar e fotografar qualquer tema sem restrições. Mais tarde, em 1979, fundou a Agência F4 de fotojornalismo (com Juca Martins, Ricardo Malta e Delfim Martins) que marcou época e fez história. Em 1991 criou a N-Imagens e participou ativamente do grupo NaFoto, responsável por organizar o “Mês Internacional da Fotografia” na cidade de São Paulo.
            Sua fotografia ocupou as principais páginas dos jornais e revistas nacionais e internacionais, e documentou todo o movimento sindical do país, em particular o de São Bernardo do Campo e outros temas polêmicos e ainda ausentes da grande imprensa. Sua aceitação no mercado aos poucos revolucionou a mídia impressa, seja pela exigência do crédito da imagem seja pelo engajamento profissional da fotografia. Conhecer minimamente essa trajetória é reconhecer sua importância na história recente do país.
            Partindo da premissa de que fotografia é também uma possibilidade de politizar a recepção, Nair consegue elaborar seu trabalho com forte cunho documental e acima de tudo insuspeito e afetivo. Verdadeiramente autêntico. Nada de enfatizar emergências desnecessárias e sensacionalistas, mas dignificar o continuum da vida e revigorar a imagem buscando o momento de suspensão no cotidiano das pessoas. Aliás, a presença humana é parte de sua percepção expandida voltada para a valorização da vida.
            O nome do livro – VI VER – assume todas as ambigüidades possíveis – o verbo ver (vi e ver) e a essência da vida (que é viver) – marcam exatamente os diversos momentos de uma vida em permanente transição. A foto que finaliza o livro é o registro de uma superfície pictórica de um grafite que ao longo do tempo perde suas cores e sua materialidade, e ganha inserções naturais e sobreposições espontâneas ao acaso. De certa forma, a “vida” daquela parede inscrita é muito parecida com a nossa vida. Ao longo do tempo, nós humanos, perdemos e ganhamos, assim como naquela parede fotografada que faz prevalecer o sentido de vazio e uma atmosfera desoladora de desconstrução.
Ao nos depararmos com as diferentes séries aqui editadas podemos ter impressão que se tratam de ensaios completamente distintos. Mas o conjunto é poderoso e acaba permitindo uma visão ampla e diferenciada do intenso trabalho de Nair Benedicto. Aos nossos olhos cabe reconhecer a importância adquirida pelas imagens e perceber que são ecos de um mesmo movimento em momentos assíncronos. Claro, expressam a atitude libertária de Nair Benedicto diante da melancólica sensação de impotência imposta por aqueles que detêm algum poder.
            Temos a imagem da criança – seja ela urbana, abandonada, rural ou indígena – que acima de tudo é criança. Temos a imagem da mulher – que é mãe, trabalhadora, batalhadora – que acima de tudo é mulher. Temos a imagem do trabalhador – que é índio, negro, garimpeiro, mateiro, sem terra – mas acima de tudo é homem. Diante disso, vendo a exposição e tendo o livro em mãos é possível criar diferentes camadas de leituras a partir das nossas conexões mentais. É possível também explorar o tempo, já que temos fotografias realizadas ao longo de quarenta anos, mas que se mostram tão atuais justamente porque nosso olhar mobilizado é capaz de perceber a importância atribuída ao caráter e à integridade presentes em cada ser humano.
            Cada fotografia conta uma história. Toda fotografia traz gente. As imagens são envolventes e singelas; contêm cenários e adereços preferencialmente populares. O tempo e o espaço denotam narrativas povoadas de lembranças. A potência desta exposição e livro é exatamente essa mistura fina de imagens que se contaminam, de tempos que se superpõem, dos espaços que se associam, de histórias que se completam, de imagens que dilatam nossa imaginação. Nair Benedicto consegue desafiar nosso olhar ao nos conectar e nos confrontar com sua história que se mostra através das suas fotografias. Mergulhar nessa trama é buscar uma compreensão mais profunda e verdadeira do nosso povo e do nosso país.


por Rubens Fernandes Junior
Pesquisador e crítico de fotografia


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Nair Benedicto lança seu livro “Vi Ver” em São Paulo
Nair Benedicto lança na Casa da Imagem, em São Paulo, o livro “Vi Ver”, apresentando fotografias divididas em duas temáticas: “Amazônias” e “Desenredos”, registradas entre 1971 e 2011, com textos de Rubens Fernandes Junior, Atenela Feijó, Juneia Mallas, Siã Osair Sales, Andréia Peres e Lais Tapajós

˙ · Na série “Amazônias”, cuja pluralidade expressa no título é reflexo do material produzido, Nair nos apresenta as várias Amazônias que testemunhou: das aldeias indígenas, do extrativismo e do surgimento de cidades. “Tive a oportunidade de documentar momentos fundamentais, nos anos 80 e 90, quando o próprio governo estimulava o desmatamento”, conta. “Trabalhei com tribos como os Kayapós, naqueles tempos com mais de 40 anos de contato, e também com os Araras, um mês após serem contatados, entre outros”, diz ainda.
“Desenredos”, por sua vez, é uma compilação de retratos sociais e culturais feitos em cantos diversos do Brasil. As imagens dessa série são como peças de um quebra-cabeça ou pedaços de uma colcha de retalhos, que desvendam um pouco das riquezas e também pobrezas brasileiras. Trabalhadores, presidiários, catadores de lixo, festas de caráter religioso, momentos de recreação, manifestações sociais e graffiti são alguns dos elementos que compõem esse complexo quadro.
“Vi Ver” aborda de maneira entrelaçada aspectos humanos e políticos de nossa sociedade, um indispensável ao outro. “Nair consegue elaborar seu trabalho com forte cunho documental e acima de tudo insuspeito e afetivo. Verdadeiramente autêntico. Nada de enfatizar emergências desnecessárias e sensacionalistas, mas dignificar o continuum da vida e revigorar a imagem buscando o momento de suspensão no cotidiano das pessoas. Aliás, a presença humana é parte de sua percepção expandida voltada para a valorização da vida”, observa o pesquisador e crítico de fotografia Rubens Fernandes Junior.
Homenageada em 2012 no evento internacional Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, Nair Benedicto faz em “Vi Ver” algo que vai além de uma retrospectiva de seu trabalho: uma revisão. “Na correria do atendimento aos clientes, a edição sempre ficava sujeita ao imediatismo e à medida em que avançava na pesquisa, ia encontrando fotos nunca editadas, símbolos das mudanças pelas quais o país vem passando nesses últimos 40 anos”, explica a fotógrafa. “Senti que essas fotos-memórias do país não deveriam permanecer num arquivo privado”, finaliza.
Tendo o inexorável tempo como fio condutor da edição, em “Vi Ver” Nair Benedicto nos mostra raízes do Brasil ao mesmo tempo em que desvela ao longo de suas imagens as constantes mutações ocorridas no país. “Com este livro, teremos a oportunidade de conhecer melhor sua trajetória, onde o político e o humano se entrelaçam de maneira indissolúvel. A edição das imagens vai espelhar os dilemas centrais da política brasileira e da cultura contemporânea”, define Rubens Fernandes Junior.

Nair Benedicto
Formada em Comunicações pela Usp, é sócia-fundadora da Agência F4 e do Nafoto. Atualmente dirige a N Imagens, através da qual veicula seu acervo e trabalhos. Documentou a situação da mulher e da criança na América Latina pela Unicef e Unifem. Tem fotos publicadas nas principais revistas nacionais e internacionais, assim como no acervo do MoMA – Museu de Arte Moderna de Nova York, no Smithsonian de Washington, no MAM/SP, MAM/RJ e no Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo. A importância de sua produção fotográfica – já premiada por diversas vezes na área do jornalismo – foi também reconhecida com o Prêmio Trip Transformadores 2010.

Casa da Imagem
Vinculada ao Museu da Cidade de São Paulo, a Casa da Imagem integra uma das 13 edificações históricas que exemplificam a evolução das técnicas construtivas da cidade, representando o uso residencial aristocrático na segunda metade do século XIX. Por ter entre suas atribuições a guarda do Acervo Iconográfico, possui um corpo técnico especializado no seu gerenciamento. A Casa da Imagem formula estratégias que estimulam a percepção da cidade e sua memória, utilizando como instrumento a qualidade documental das imagens em atestar, reconstituir e analisar a história. Entre suas metas está a proposta de conduzir um conjunto de ações que permitam conhecer o passado de São Paulo sem desqualificar o contemporâneo, mas aí situá-lo, estimulando o desenvolvimento humano e a aproximação da cidade e seu cidadão.

Lançamento do livro “Vi Ver” – Nair Benedicto
Data: 27 de outubro, sábado, 11h
Local: Casa da Imagem
Endereço: Rua Roberto Simonsen, 136b, Centro (ao lado do Pátio do Colégio)
O livro “Vi Ver”
Autora: Nair Benedicto
Editora: Sul Brasil
Número de páginas: 200
Preço: R$ 80,00


Fontes: Nair Benedicto, Bruno Palma (Balady Com) e Décio Hernandez Di Giorgi (Adelante Comunicação Cultural)


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IMAGENS do LIVRO "Vi Ver"
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